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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Algumas coisas que descobri em 2008

Eu já venho refletindo sobre o meu ano há algum tempo, e já postei algumas coisas aqui antes. Então, vou colocar aqui apenas algumas descobertas importantes, alguns apredizados que me surpreenderam no ano que passou.

-A maior surpresa prá mim foi descobrir que não quero mais trabalhar com educação. Não, pelo menos, do jeito que em geral concebemos a coisa. Quero ensinar coisas que gosto a pessoas interessadas, e não coisas inúteis a crianças cheias de vida que tem de ficar trancadas em salas de aula porque os pais estão pagando, ou que precisam de muito mais do que toda a minha energia é capaz de envelhecer. Descobri que trabalhando nessas condições, eu adoeço. Eu podia ter descoberto isso ano passado, mas eu achava que, sob outras circunstâncias, as coisas seriam melhores.

-Vinculado a isso, morreu o grande sonho que foi projetado prá mim desde pequena: Não vou ser professora de escola pública pelo resto da vida prá ter um trabalho que me dê dinheiro certo. Eu preciso de mais um ou dois anos só para cogitar a idéia de prestar concurso público outra vez. Não é só pagar a taxa, estudar, passar, e você está lá. É um processo mais longo e cheio de ansiedade que isso.

-Descobri que já tenho créditos suficientes para me formar, e já me considero formada. No entanto, isso me deixa mais perdida que cego em tiroteio, pois já vi que vou usar meu diploma para uma coisa completamente diferente do que eu pensava em fazer, e, ao mesmo tempo. nunca estive sem estudar, desde os quatro anos de idade, e não estou conseguindo me adaptar a esse processo. Já fiquei um semestre a mais que o necessário na faculdade, e provavelmente fico pelo menos mais um.

-Descobri que, apesar de, à primeira vista, ver o mundo como o fluxo das energias Yin e Yang parecer bobinho, a coisa é menos simplista e mais complexa, profunda, real, e divertida do que parece. E que exige muito, muito mais estudo que aparenta.

-Aliás, descobri que tenho prazer em conhecer religiões diferentes da minha.

--Falando na minha religião, descobri que não sou mais uma novata, embora pareça que foi ontem que começei a trilhar meu caminho. Também não sou nenhuma mestra, mas já aprendi um monte de coisas que posso compartilhar, já que conhecimento pede movimentação.

-Descobri que as formas que os oráculos anunciam coisas a nós pode ser absurdamente variadas: Podemos ter respostas engraçadas de tão literais, como podemos ter respostas realmente enigmáticas, e aquelas que estão o tempo todo debaixo de nosso nariz, mas não entendemos. Nesse sentido, algumas de minhas atitudes perante as respostas desse ano foram enganos quase do tipo do de Édipo, enquanto outras vão me deixar por anos ainda dizendo "eu disse que era isso? Eu aviseeei, eu aviseeeeei", e vou me permitir ser tão chata quanto o burro do Shrek, pq complexo de Cassandra é muito chato.

-Continuo acreditando em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, sacis com frio no pé e formigas que bebem AdeS, no entanto não acredito mais em amizade à primeira vista. Os vínculos que vêm muito intensos desde o começo, acabam tão rapidamente como começam. E as outras pessoas podem nem sentir, mas eu acabo me entregando, e me lascando, e acabo deprimida por meses depois que a meleca acaba. Caí nessa ilusão duas vezes, e pretendo não cair na terceira. Em compensação, vou dar mais atenção às pessoas que chegam como quem não quer nada, que são moderadas e com as quais parece que você nunca vai ter grandes intimidades, pois são essas que sabem ser amigas prá vida inteira. Se até com o Chronos meu relacionamento começou assim, pq diabos eu tento fazer o contrário? Eu entendo que com outras pessoas isso funcione super bem, mas, da minha parte, estou fugindo de relacionamentos como esses.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Natal, Héstia, Pequenos Milagres, Cura

Era o início de Dezembro. Meu irmão se casara no meio do mês anterior, e percebi que minha mãe e meu pai passariam o natal sozinhos. Pensei que poderiam se sentir tristes. Achei que, por mais que acabasse não sendo o mais divertido, o mais certo era que eu fosse passar o natal com meus pais. Liguei, e perguntei o que eles iam fazer.

No primeiro momento, minha mãe disse que eu não precisava se preocupar, que ficariam sozinhos, o casamento tinha sido festa suficiente. No segundo momento, disse que se quiséssemos mesmo ficar por lá, podíamos jogar uma partida de buraco, o jogo de reunião de família tradicional da casa de minha avó. Mandei e-mails para o meu irmão, perguntando se ele viria, mas eu e Chronos já havíamos confirmado.

Quando meu irmão confirmou, mas dizendo que ia voltar cedo por causa da família da Camila, minha mãe convidou também a famíla da minha cunhada. Meu irmão disse que era muito difícil que viessem, mas todos acabaram vindo.

Duas tempestades, as claras em neve, e o gás que acabou me atrasaram um bocado. Pretendia estar lá bem mais cedo, para curtir mais. Quando cheguei, minha cunhada estava lá, com minha mãe na cozinha, fazendo salada, comidas japonesas, e colocando o tender para assar.

Eu sabia que meu irmão levaria o tender, mas eles planejavam levá-lo assado. Esqueci de perguntar o que aconteceu. Mas o fato é que o forno da minha mãe foi aceso.

Tenho 24 anos, então meus pais estão com quase trinta de casados, e o fogão vem dessa época. Mas o forno daquele fogão NUNCA tinha sido aceso até então. Pode parecer estranho para qualquer um de vocês, mas minha mãe temia um vazamento de gás caso ligasse o forno.

Minha mãe, aliás, é uma pessoa cheia de temores e manias. Quando eu morava com ela, nunca podia levar amigos em casa, pois ela tinha vergonha de minha casa, medo do julgamento de meus amigos, e horror à bagunça que eu podia fazer. Chronos só entrou na minha casa duas vezes por emergência antes de casarmos. E, devo admitir, esse foi um dos fatores que apressou muito nosso casamento, da minha parte. Como era proibida de trazê-lo em casa, eu tinha que sair constantemente, e meus horários de chegar, ou o fato de passar noites fora, enraiveciam minha mãe, e faziam com que ela brigasse constantemente comigo. A minha cunhada já aproveitou um pouco mais da compania dos meus pais, pois minha mãe deixou de ser tão rígida quando eu casei.

Ceia preparada, todos comendo, e eu percebi o que estava acontecendo: Haviam nove pessoas naquela casa, e isso nunca havia acontecido. E, simplesmente, eramos uma família. De um jeito que nunca haviamos sido antes. Minha mãe, pela primeira vez, teve uma postura de mãe com filhos crescidos e independentes: Não eramos mais apenas quatro. Todos tinham presentes, se divertiam, riam, e comiam. Minha mãe não achou que eu, Chronos, e o namorado da irmã da Camila eramos alcólatras porque começamos a comentar sobre teor alcólico de diversas bebidas. E ela havia se escandalizado quando soube que eu bebia.

Quando eu realmente percebi tudo o que estava acontecido, um sentimento terno e maravilhoso se apoderou de mim. Não sei se os outros haviam percebido, mas um pequeno milagre estava acontecendo, naquele momento. E meu conceito de pequeno milagre foi, muito parecido com o de um desenho japonês para crianças que eu vira uma vez, chamado Kokoro Toshokan. Era um fato aparentemente cotidiano, que se tornava maravilhoso pelo sentimeto que trazia, assim como pela inocência e espontaneidade que o haviam produzido. E eu conseguia visualizar uma cena muito parecida, num futuro nem tão distante, com meu filhinho correndo por todos os lados e sendo mimado como o pequeno da família.

Então, em epifania, me lembrei do forno aceso, que cozinhara nosso tender. E soube o nome do milagre. Pois o fogo de Hestia tinha sido aceso. Era a senhora do lar, em seu devido lugar. Era ela que, sempre discreta, presidira aquela festa, em que nenhuma criança da promessa foi lembrada. E o Senhor do Olimpo, com seus raios, a abençoou.

Voltei apenas ontem à noite para casa. Afinal, agora estava em casa também na casa de minha mãe. O efeito de tudo isso em mim foi excepcionalmente curativo. Ver um padrão viciado ser rompido da forma correta muito me alegrou. Estou em uma espécie estranha de transe até agora. Felicidade, alívio, e contentamento em saber que meus deuses me seguem onde quer que eu vá.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lua Adversa

Poeminha para homenagear minha carta de lunação, A Lua. Me lembrei dele ontem na hora que estava tomando banho. Conheço como sendo de Cecília Meirelles, mas, para falar a verdade, não tenho certeza absoluta da autoria.

Eu ainda não estou com tempo de escrever, várias coisas estão passando em branco. Bem, paciência.

Lua Adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Hoje o Sol sorriu prá mim!

Aquele sol de hoje às seis horas da tarde existiu mesmo, ou foi só uma miragem? Eis que eu estava saindo do trabalho, e ele me tomou completamente. Foi um momento maravilhoso, daqueles que, por mais que saibamos que são intraduzíveis,ainda assim, somos impelidos a tentar. E, tão logo entrei no ônibus, escrevi.

Esta tarde, todas as nuvens foram para o horizonte,
onde os aviões cruzam serenamente os céus.
Os casacos, usados de manhã,
Eram carregados alegremente pelos pedestres.

O azul celeste sorriu.

Nesta tarde, fez-se verão.

domingo, 26 de outubro de 2008

Economia?

Hoje resolvi postar sobre um assunto que pouco vejo aqui no Multi, e sobre o qual acho que nunca postei. Resolvi falar sobre crises econômicas, dando uma pincelada geral e muito rápida no que eu sei sobre elas.
A primeira coisa a notar é que crises como a que estamos vivendo são parte do processo capitalista como um todo. O único jeito de não haverem crises é não haver capitalismo. Se minha memória não está enganada, desde o século XVII são registradas essas crises dentro dos ciclos econômicos. E se alguém espera viver sem ver uma crise dessas, o que espera, no fundo, é viver muito pouco.
O capitalismo tem um padrão cícilico, e, pelo rumo que o mercado estava tomando, essa crise era previsível há pelo menos uns dois anos atrás: Veja bem, eu não estou falando de tarólogos que sabiam que esse ano é o da roda da fortuna (embora a associação seja absurdamente simples), mas de economistas que fizeram cálculos matemáticos.
A questão da possibilidade de evitar as crises é um pouco controversa na economia. Em geral, não se fala em evitar, mas em estar preparado para quando elas vierem, com planos de contingência variados, e com muito estudo e estratégia para saber o que, e como, fazer. É um imenso jogo de estratégia: Qualquer movimento errado pode acelerar o processo que se vem tentando evitar. Há uma série de variáveis a serem cuidadosamente ponderadas, tanto tomando em consideração o mercado mundial, quanto o mercado interno. Assim, é possível sim sair ganhando com a crise, mas, como já diria Maquiavel, a oportunidade tem que chegar no momento que se está preparado para ela, e precisa ser utilizada com sabedoria.
Para os pobres mortais, o melhor jeito de sobreviver à crise não é deixando o dinheiro embaixo do colchão: Se você tem economias, aplique-as em investimentos variados. Se não tem, fuja de parcelamentos e dívidas como o vampiro foge do sol. Compre nas promoções, não compre quando os preços aumentarem.
Por fim, sobre essa crise específica, eu estou acompanhando muito pouco. A minha opinião, no entanto é a de que aqueles que dizem que essa é "a maior crise da história do capitalismo", como li numa manchete de revista uma ou duas semanas atrás, está exagerando. A crise vai, sim, afetar nosso país, nossos padrões de consumo (que já estavam balançados desde o ano passado, sejamos sinceros), vai reduzir os empregos em certos setores, e podemos esperar uma recessão do cão nos próximos anos. Contudo, tudo o que podemos fazer é nos adaptar e saber que o que estamos vivendo é parte de um tipo de processo que já foi vivido tantas outras vezes.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Oráculo do dia

Esse vem do I-ching, o Livro das Mutações. Como pro chines tudo só pode ser analisado dentro de um contexto, dou o meu. Estou cansada de dar aula. Quero fazer outras coisas. No início do semestre, pensei em dar bem menos aulas do que estou dando, e ajudar o Chronos com as coisas dele, ou procurar um emprego em outra área. Mas surgiu uma oportunidade muito boa de dar aula, cujos horários batiam exatamente com os meus tempos livres, e acabei indo. Nessa escola nova, a coordenadora me perguntou essa semana se quero assumir mais uma aula, às sextas. Mas as sextas são um dia que está completamente livre, e eu estou muito feliz com o fato de que os meus fins de semana têm três dias. E dois dias só não tem dado para descansar. Então, perguntei ao i-ching se é sábio assumir essas outras aulas, pensando que, ao assumí-las, me alivio um pouco financeiramente. Eis minha resposta.

"Dificuldade em ir, retornar leva à união." Pois deve-se colocar no lugar da honestidade.

Pronto. Carta branca para ser sincera e dizer que não quero pegar essa aula pois quero me dedicar a projetos pessoais nas sextas feiras.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sobre os amanheceres

Uma coisa não posso reclamar desse semestre: Meus horários estão racionais em relação à hora em que eu tenho que sair de casa para trabalhar. Saio entre 7 e 7 e 15 todos os dias. Não é cedo, nem desequilibrado como semestre passado. Além disso, como já estou acabando a faculdade, só tenho aula em uma noite.
Esses fatores têm gerado, agora que os dias voltaram a ser maiores do que as noites, uma deliciosa sensação que não tinha já há um bom tempo: Meu relógio biológico está se alinhando com o nascer do sol. É uma delícia! Todas as manhãs, quando o dia começa a clarear, eu acordo, espontaneamente, e sem a sensação de sono. Isso tem acontecido, essa semana, por volta das 5:30.
E hoje - que o dia, além de tudo, não amanheceu nublado, eu parei prá pensar o que estou fazendo desse tempo. Antigamente, quando isso ocorria, eu acordada - e não importava a opinião das outras pessoas de que essa não era hora de levantar - e começava meu dia. Agora, eu volto para a cama. E, na hora que o despertador toca, estou com sono.
Tenho que voltar a encontrar forças para começar meu dia quando meu organismo pede - pelo menos, enquanto eu posso. Pelo menos, para compensá-lo pelo tanto de tive de forçá-lo no inverno, pelo tanto que ele reclamou de estar se movendo tão antes do sol nascer.
Minha relação com o sono foi uma das coisas que mudou depois do Chronos - eu me tornei muito preguiçosa. Mas, talvez, indo além das aparências, isso não seja bom para mim. É muito gostoso descansar nos braços de quem se ama. E essa sensação seduz. É um conforto sem igual nesse mundo. Mas qual é o momento de sair do conforto para produzir, para realizar coisas belas nesse mundo?
Vou tentar acordar quando meu organismo pedir. Seja para anotar os sonhos decentemente, o que eu não tenho conseguido fazer nos últimos tempos, seja para praticar um pouco de Yoga, para uma sedução matinal, para escrever alguma coisa, preparar meu próprio café. Sinto que esse é o momento de dar esse passo, e, com ele, crescer um pouco. Se, essa é minha natureza, aceitá-la só me fará melhor.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Qual é o anime / mangá da sua vida?

Se você é um bom assistidor de animes e leitor de mangás, ou, às vezes, se você der sorte, vai acabar descobrindo qual é o anime ou mangá da sua vida. Nesse caso, a obra parece retratar completamente você, pode até chegar a ser constrangedor assistir isso com outras pessoas, pois parece que é o mesmo que desfilar nu(a) na frente delas. Mas o contrário é mais comum: Você quer mostrar o anime para todo o mundo para que os seus amigos te entendam melhor.

É assim com a Carol que tem uma relação muito legal com Full Metal Alchemist, que lembra prá ela um bando de coisas que ela viveu com o primo dela, o Áttila. É assim com o Chronos, que tem altas viagens filosóficas com o mangá de Shaman King, (o anime é ruim) que, segundo ele, expressam muito bem a visão dele sobre o universo.

E quanto à mim? Esse post surgiu exatamente porque Agosto foi tão infernal que eu resolvi re-ver um dos animes da minha vida: Uma space-opera totalmente desconhecida no Brasil (acho que deve dar prá contar nos meus dedos quantas pessoas viram por aqui, uma vez que não teve legenda em português) chamada Uchuu no Stellvia (Stellvia of the Universe).  O jeito que a Shima, a personagem principal, se comporta e se relaciona com o mundo me espelha completamente.  Ela é retratada na imagem abaixo, que é como eu imaginei que é dentro de mim quando me disseram que dentro de mim há 10 Ló-zinhas e o meu problema é que elas ficam brigando entre si o tempo todo!


Eu só não fiz cosplay de Shima pa eu detesto roupas laranjas, heheheehehehehe. Mas eu fiz cosplay de uma das amigas dela, a Rinna-chan. Para quem não lembra, ou não viu, tem uma foto aqui e outra aqui.
Outro anime que espelha minha vida, embora com muito menos exatidão em relação a Stellvia, é Karekano. Pelo menos esse já é mais conhecido, né? Infelizmente, como quando vi ainda não estava no Multiply, não tenho nada publicado sobre ele, mas nessas horas, a Wikipedia resolve. Aliás, o meu primeiro cosplay foi no primeiro grupo de karekano do Brasil! E isso foi há muuuuuuuito tempo atrás, quando fansub ainda era em fita VHS. Cheguei a ter os dois uniformes (o de inverno e o de verão) mas eu não sei onde tem fotos digitalizadas :(

E você? Já sabe qual é o anime da sua vida?

domingo, 24 de agosto de 2008

Abelhas, parte III

Encerrando a pesquisa sobre abelhas, pensei em que relações poderia traçar com o mito grego, e logo me lembrei de duas histórias: a de Deméter e Melissa (que provavelmente tem relação com a coisa dos mistérios de Eleusis, que foram mencionados no texto que traduzi no primeiro post), e a lenda de Aristeu, que é o cavaleiro de ouros no tarot mitológico. Fuçando um pouco na internet achei algumas coisas interessantes, como a moeda ao lado, que foi cunhada em Éfeso em algum momento entre 405 e 325 antes de cristo. (se quiser ver mais moedas cunhadas em éfeso clique aqui).

Prá ser bem sincera, nem procurei muito sobre a coisa de Melissa. Lembrava muito bem que a Inês tinha recontado a lenda de modo maravilhoso. Para quem perdeu, está aqui. As ninfas que cuidavam das abelhas também se chamavam Melissae.


Quanto a Aristeu, encontrei as coisas mais interessantes: Ele era filho de Apolo e de uma ninfa do oceano chamada Cirene. Como seu pai, era um civilizador. Aprendeu com as ninfas por quem foi criado como fazer o queijo, criar abelhas para fazer o mel e como cultivar as oliveiras para de seus frutos extrair o óleo. Depois, espalhou esses conhecimentos por diversas regiões. Casou-se com Autonoe, filha de Cadmo e Harmonia, e assim foi pai de Acteon (o caçador que Ártemis pune por tê-la visto nua). Dentre outros feitos, acabou com uma praga conseguindo, através de Zeus, o favor de certos ventos benéficos, e foi iniciado nos mistérios de Dionísio, deus com o qual teve um longo relacionamento.
O episódio mais conhecido de sua vida é, no entanto, relacionado à sua criação de abelhas: Certa vez, toda a sua criação morreu subitamente. Então, ele chamou sua mãe Cirene  e lhe pediu um conselho. Ela lhe disse que ele devia perguntar a Proteu, o velho do mar, por que aquilo havia acontecido, e qual era o meio de remediar. Conseguir uma audiência com Proteu, no entanto, não era nada fácil, como Ulisses também descobriu em suas jornadas: Era preciso esperar até que ele começasse a descansar ao sol do meio dia, e o prender. Então, Proteu se transformaria nas coisas mais horrendas, tentando amedrontá-lo para que o soltasse, mas ele precisaria resistir brevemente, até que ele tomasse a forma verdadeira novamente, e, então, ele responderia as perguntas.
Proteu disse a Aristeu que as abelhas haviam morrido por causa da tentativa de rapto a uma donzela, que havia fugido dele se embrenhando pela mata, e havia morrido pela picada de uma serpente. As ninfas haviam se enfurecido com ele por conta do ocorrido, e ele deveria fazer um sacrifício expiatório. Ele matou quatro touros e quatro vacas, e, passado um tempo, das carcaças dos animais sacrificados surgiram novas abelhas. Segundo Bullfinch, a donzela a que se refere a lenda é a Eurídice, de Orfeu.

Por todos os bens que fez aos humanos, estes começaram a cultuá-lo, e, por isso, ele foi divinizado. A figura de Aristeu foi, então, identificada à de dois deuses primitivos e antiquíssimos: a de Melisseus, um antigo titã que regia o mel, e a Astraios, outro titã, que foi o marido imortal de Eos, de quem ela gerou os Ventos. (fonte: Theoi project)

somando tudo isso, talvez a picada seja uma ajudinha um pouco dolorida dos meus deuses para ver se eu consigo levar o meu trabalho... tomara!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

O Eremita, Nietzche e Eu

Meu marido tem um mote: Ele diz que sou uma pessoa tão dura pq li Nietzche cedo demais. Não sei o que dizer em contrário. Comecei a ler Assim Falou Zaratustra aos 15. Nunca terminei. Não me lembro se já tinha feito 16 da primeira vez que lí o Genealogia da Moral. Mas sei que aos 17 li junto com amigos e discutimos parágrafo por parágrafo. E ano passado, aos 22, tive umas aulas sobre Nietzche na faculdade - a melhor delas na sexta feira da paixão, pois não era possível ter sacrilégio maior que aquele - e percebi que, quando era mais jovem, tinha entendido tudo errado.
Pois bem: Sempre que O Eremita me aparece entre as cartas que tiro no Tarot, me lembro de Assim Falou Zaratustra. Hoje estava escrevendo sobre a carta, e resolvi pegar o dito livro da estante e dar uma folheada no início Foi gostoso. Faz tanto tempo que eu ainda não tinha convencionado meus padrões para marcar no livro as citações importantes, de modo que viajar pela leiura anterior foi um pouco difícil.
Acabei transcrevendo uma série de trechos da primeira parte do livro, o preâmbulo. Se fosse prá adiante, ia acabar ficando muita coisa! Na verdade, ficou muita coisa sendo apenas a primeira parte. Então, para não me alongar com essas citações na minha lição de casa, como eu pretendia, posto tudo aqui.
(a edição é ruim: é o pocket book da Martim Claret)

"Zaratustra desceu sozinho das montanhas sem encontrar ninguém. Ao chegar aos bosques, deparou-se-lhe de repente um velho de cabelos brancos que saíra da sua sagrada cabana para procurar raízes na selva. E o velho falou a Zaratustra desta maneira:
-Este viandante não me é estranho: Passou por aqui há anos. Chamava-se Zaratustra, mas mudou. Nesse tempo, levava as suas cinzas para a montanha. Quererá levar hoje o seu fogo para os vales? Não temerá o castigo que se reserva aos incendiários? Sim: Reconheço Zaratustra. O seu olhar, no entanto, e a sua boca, não revelam nenhum enfado. Parece que se dirige para aqui como um bailarino! Zaratustra mudou, Zaratustra tornou-se menino, Zaratustra está acordado. Que vai fazer agora entre os que dormem?"

"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante."

"Não me compreendem; não. Não é da minha boca que estes ouvidos necessitam. Vivi demais nas montanhas, escutei demais os arriôos e as árvores, e agora falo-lhes como um pastor. A minha alma é sossegada e luminosa como o monte pela manhã; mas eles julgam que sou um frio e astuto chacareiro. Ei-los olhando-me e rindo-se, e, enuanto se riem, continuam a odiar-me. Há gelo nos seus risos."

"Um raio de luz me atravessa a alma: preciso de companheiros, mas vivos, e não de companheiros mortos e cadáveres, que levo para onde quero. Preciso de companheiros vivos, que me sigam - porque desejem seguir-se a si mesmos - para onde quer que eu vá. (...) O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem crentes; procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas. O criador procura companheiros para acompanhá-lo; porque tudo está maduro para a ceifa. Faltam-lhe, porém, as cem foices, e por isso arranca espigas, contra sua vontade. Companheiros que saibam afiar suas foices, eis o que procura o criador. (...) Colaboradores que ceifem e descansem com ele, eis o que busca Zaratustra. Que se importa ele com rebanhos, pastores e cadáveres?"

"Rogo, portanto, à minha altivez que me acompanhe sempre a prudência! E se um dia a prudência me abandonar - ai! Agrada-lhe tanto fugir! - possa sequer a minha altivez voar com a minha loucura."

domingo, 25 de maio de 2008

Dançando

Desde pequena, dançar é uma coisa que me alegra muito. Me torna mais viva, mais ativa. Tem quase o efeito das flores, mas parece que é um efeito um pouco mais noturno.

Devo meu gosto por Clara Nunes pelas horas que passava dançando, sozinha, na sala da minha casa, quando morava ainda no prédio chamado Zeus. Ouvia outras músicas que eu gosto muito até hoje, mas era a fita de Clara Nunes do meu pai que mais me animava a dançar. E, criança, em meus devaneios, pouco importava estar sozinha, ou estarem me vendo. Nem sei se eu dançava no rítmo certo. Aquilo era uma demonstração da minha plenitude.

Já nos idos de 94/95, influenciada pelas coleguinhas de escola, comecei a ouvir rádio, a ter as minhas próprias músicas, independente do gosto de meus pais - especialmente do meu pai, que me influenciou mais nesse aspecto. Era uma época em que se tocava muita dance music, e eu curtia muito. Se me colocarem numa pista com dance - mas não com techno e essas coisas mais recentes - certamente eu vou ser um ser humano saltitante. E mesmo sendo ainda muito jovenzinha, foi nessa época em que soube o que era uma pista de dança: Nas festinhas (eu morava em um condomínio de classe média) sempre contratavam DJs e transformavam o salão do prédio em uma danceteria para nos divertirmos. Mas, pelo menos vendo de dentro, nossas brincadeiras de pré-adolescentes não tinham a carga erótica que têm hoje para crianças da mesma idade.

Eu era péssima com coreografias e essas coisas. Talvez não fosse boa para dançar. Mas não me importava nada disso, frente à felicidade que dançar me proporcionava.

Entre 1997 e 1998 eu morava em uma cidade do interior de Minas, e já era um pouco mais grandinha. Não era mais o tempo de danceteria de festa de aniversário de criança. Ia dançar com os adultos, no clube mesmo. O clube era o único lugar dançável da cidade e era muito mais divertido nos feriados, quando os jovens de BH, Ouro Preto e outras cidades iam para a minha cidadezinha ver parentes e amigos.

O baile de domingo, que era o que eu ia por que as mulheres não precisavam pagar entrada, começava logo depois da missa, e terminava só no outro dia. Sim, eu era menor de idade, e em tese não poderia frequentar o dito lugar, mas nunca ninguém me impediu. Houveram vezes em que eu cheguei a ir completamente sozinha, e não ficava mal com isso. Tinha que conviver com estilos musicais que eu gostava e que eu não gostava, mas era só dançar até se acabar quando tocavam músicas legais, e ir para outros ambientes quando elas não me agradavam.A última coisa que fiz antes de voltar para São Paulo foi dançar até o fim do baile.

Voltei a sair à noite só muitos anos depois, pois meus amigos certinhos não curtiam esse tipo de coisa, e eu não confiava em sair com os "porra loca" (e se eu não confiaria, imagina minha mãe?). E tem toda a coisa de São Paulo ser uma cidade violenta, etc. Fui voltar a sair apenas quando já namorava com o Chronos, e minha mãe tinha um treco quando saíamos prá dançar. Lembro-me de uma vez - eu, já na porta de casa, minha mãe continuava tentando fazer com que eu não fosse, e eu olhei para ela, ao mesmo tempo esperançosa e quase em lágrimas, e disse para ela me deixar ir, pois era a primeira vez que eu tinha um namorado que gostava de dançar.

Desses três anos junto com o Chronos, já fomos em muitos lugares e temos muitas histórias prá contar: Dos shows do Pato Fu, do dia em que ele dormiu a noite inteira no The Clock e eu dançei o tempo todo, mesmo sem ele, da festa que exalava Dionísio, e de tudo o que descobri de mim naquele dia, do jeito que ele me protege e demarca nosso território nos lugares com ar mais hostil - e isso, talvez, seja o melhor de tudo! Sentir a energia dele protegendo meu espaço para que eu possa dançar livre. Isso faz com que eu me sinta plena, me enche de alma.

Ainda assim, se há três anos atrás me dissessem que hoje eu estaria fazendo aula de dança do ventre, eu jamais acreditaria. Dançar dança do ventre é uma demonstração de confiança em si mesma, de reverência ao corpo e de aceitação de suas potências. E como eu ia imaginar que me sentiria confiante o suficiente? É preciso encarar a sí mesma para dançar - e, ao mesmo tempo, é preciso estar pronta para afirmar aquilo que se está fazendo aos outros. Se ouve as coisas mais esquisitas quando se fala a uma pessoa "comum" que você faz aula de dança do ventre. As pessoas são ridiculamente mal informadas.

Com isso, estou aprendendo um novo jeito de dançar. A festa de Santa Sarah à qual eu fui esse fim de semana certamente faz parte disso. Poder fazer parte daquele movimento de energias maravilhosas, e se sentir plenamente integrado - sem ter ninguém te criticando por não saber os passos certos, e estando todos, absolutamente todos, abertos à troca de energias entre as almas, foi uma experiência maravilhosa para mim. E, quem sabe, numa próxima festa, eu já não tenha conhecimento e movimentações suficientes para arriscar uma dança-solo? Um dia, eu quero poder expressar meu espírito e dividir minha energia desse modo.

Nunca pensei que nasci para dançar. Nunca me julguei boa nisso - e nunca me disseram isso também - mas, entre períodos de alegria e de esquecimento, a dança é, para mim, uma dessas atividades, paralelas a tantas outras, que ajudam a dar cor à passagem dos meses, e que me trazem instantes de felicidade plena. Ainda que sejam momentos fugazes, e irreproduzíveis, suas marcas estarão para sempre na memória desse corpo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre sonhos, celebrações e estrangeiros

Hoje sonhei que celebrava com os meus amigos asatru (o nome daqueles que cultuam os deuses nórdicos) o Samhain. Creio que eles não chamam Samhain essa data, e eles celebram uma roda um pouco diferente. Mas foi curioso, principalmente por que, para muitos, hoje é mesmo o Samhain, o "dia de finados".
Primeiro de maio é o correspondente ao dois de novembro se levarmos em conta a estação do ano em que ele cai no hemisfério norte. Se se leva em consideração "celebrar os mortos ao início do inverno", celebra-se hoje. Eu não celebro hoje, celebro em dois de novembro mesmo, pois sigo a "roda mista", conceito que para alguns é muito complicado, mas para mim, que "nasci" nele para o paganismo, é muito simples de entender: Celebra-se os solstícios e equinócios pelas estações do hemisfério sul, os quatro festivais celtas pelas datas no norte. Ou, não teríamos festas juninas, mas festas janeirinas, e no meu aniversário estaríamos celebrando o natal, mas não é invertendo tudo que a coisa se fez historicamente.
Mas ter sonhado com um Samhain no dia que por muitos é considerado Samhain, por mais que aqui em casa estejamos celebrando Beltane, foi, para mim, surpreendente.
E sonhar com os meninos, mais surpreendente ainda. Não tenho contato com eles há um bom tempo. E, em outros sonhos de hoje, vieram dois outros símbolos que têm a ver com a cultura nórdica: uma chuva de granizo, e o arco-íris (que para eles é a ponte para o lugar onde vivem os deuses, chama bifrost).
Também é o segundo dia consecutivo que eu sonho com o Mandos e com festividades. Pois ele estava na celebração de Samhain, e, na noite anterior, sonhava que fazíamos uma festa de aniversário para ele. O que também me lembra que o aniversário desse germiniano (e, alguns dias depois, o meu) está chegando, com a chegada do inverno.
E ainda abro o Multiply para dar de cara com uma discussão sobre os passeios que às vezes damos por outras culturas. curioso, não?

sábado, 29 de março de 2008

Mêmnon

Contarei a história do embate entre Mêmnon e Aquiles, dois guerreiros de igual dignidade, um dos feitos heróicos da Guerra de Tróia. A chegada de Mêmnon, rei da Etiópia, se deu depois da morte do nobre Heitor, e, por isso, não foi contada por Homero em sua obra.
Quando a gloriosa Tétis, filha de Nereu, soube que Mêmnon chegara, com um exército de milhares de homens, para reforçar a defesa de Tróia, ordenou que seu filho Aquiles fosse imediatamente avisado, e ao rei dos mirmidões foi enviada a seguinte mensagem:
"Nobre guerreiro, acautele-se, pois tens um novo desafio. O jovem filho de Titonus de Tróia e da própria Eos, da prole de Hipérion, reforça as fileiras do exército dos filhos de Príamo. Note que, como tu, ele também foi gerado por mãe divina, apesar da paternidade mortal, sendo reconhecido nas terras que reina como o melhor dentre os guerreiros dessa geração. E, como tu, Mêmnon porta lança e espada, armadura e reluzente escudo, todos forjados por Hefesto, o imortal ferreiro."
Tétis estava apreensiva pelo destino de seu filho, tanto quanto Eos Hemera, a senhora da luz, que seria conhecida por todo o ocidente como Aurora, pois ela não dedicava menos amor aos seus filhos mortais que aos imortais, os ventos e as estrelas. E, tão logo a presença da deusa tornou róseo o céu, o filho dela estava armado e pronto para romper as fileiras dos gregos. Em seu carro, ele atacou o centro do exército inimigo com os melhores homens dele, e esse embate foi desfavorável para o exército grego, que perdeu muitos homens.
Com a noite veio a trégua, e, discutindo sobre o que acontecera, os gregos decidiram que restava apenas uma saída, para evitar que os danos fossem ainda maiores: Um dos mais fortes dentre os capitães deveria desafiar Mêmnon para um combate de um contra um, enquanto outros homens de igual coragem lhe dariam apoio, para garantir que nenhuma deslealdade fosse cometida. No entanto, antes que eles conseguissem executar esse plano, Mêmnon matou Antíloco, filho de Nestor, e este, muito abalado com a morte do filho, dela se lamentou perante Aquiles que decidiu, contrariando os pedidos de cautela da parte de Tétis, resolver o problema com as próprias mãos.
Aquiles se moveu na direção de Mêmnon, e a simples visão de seu carro causava temor nas hostes troianas. Chegando perto do rei dos Etíopes, Aquiles atirou uma pedra no escudo de seu adversário, e o desafiou. As nuvens estavam escuras sob as praias da Ilion sitiada.
No olimpo, os deuses reunidos na corte de Zeus fizeram silêncio ao ver que logo se iniciaria o confronto entre o filho de Tétis e o filho de Eos. Os olhares das duas deusas imploravam a Zeus por misericórdia em relação a seus filhos, mas este, profundamente pensativo, ponderava sobre a situação, decidindo qual dos dois sobreviveria, e qual das duas deusas prantearia primeiro pelo filho morto.
Aquiles lutava em igualdade com Mêmnon, e nenhum deles demonstrava sinal de cansaço ou fraqueza, quase como se aquela batalha fosse entre dois imortais. Um grande círculo de guerreiros de ambos os partidos observava, e todas as hostilidades cessaram, esperando o fim daquela luta.
Quando o destino foi decidido, a vida de Mêmnon se foi sob a espada de Aquiles. E muitos, mortais e imortais, sentiram tristeza pela morte do filho da senhora do amanhecer. Sobre uma poça de sangue, tombou Mêmnon, ao lado de tantos outros guerreiros mortos.
Os combates cessaram, com a retirada dos troianos, e todo o céu parecia mais escuro. Com suas asas brancas, Eos desceu ligeira à terra, e envolveu o corpo de Mêmnon em uma névoa prateada, enquanto os Ventos o levaram para as margens de um rio das proximidades. Alí, Eos tomou o corpo do filho em seus braços e o pranteou, cercada pelas Horas, Plêiades e outras divindades que lhe eram caras, e igualmente expressavam sua dor pela perda do jovem; depois, Memnon foi pranteado e queimado por seus homens, os etíopes.
Alguns dizem que Eos transformou os mais nobres dentre os etíopes em pássaros, que voltam, todos os anos, no aniversário da morte de Mêmnon, ao local onde ele foi pranteado e relembram a morte dele. Outros dizem que quando caminhamos pela grama de manhã bem cedo e ela está molhada, isso acontece porque até hoje Eos continua a prantear seu filho.



Imagem: Eos e Memnon, cerâmica ática, aprox. 480 a.C. Museu do Louvre. Extraída de Wikimedia commons.

Acredita-se que esse tipo de iconografia de Eos segurando o corpo de Memnon tenha inspirado imagens de Maria segurando Jesus Cristo morto.



Recontado por: Lórien

Fontes consultadas: Thomas Bulfinch, O livro de Ouro da Mitologia, ed. Ediouro; Theoi Project

sábado, 8 de março de 2008

Zeus

Dentre os deuses a quem ergo minhas preces cotidianas está ele, o Senhor do Olimpo, junto da esposa dele, Hera.
E hoje de manhã, enquanto tomava banho, pensei muito em Zeus, em como comecei a cultuá-lo, e em como fui abençoada por ele desde então. Zeus, o regente de deuses e de homens. Zeus, o dispensador de bens, Zeus, das chuvas que fertilizam a terra.
A sensação que tenho, ao pensar nas coisas que aconteceu desde a vez em que lhe ergui um ritual, o ritual mais "aberto" que eu já celebrei, e talvez o mais grego de todos eles, com carne ardendo na brasa, é a de uma infinitude de bênçãos.
Não foi uma coisa do tipo "agora você tem um vale-bênção. Mande pelo correio e a sua encomenda chega em x dias". Tive de batalhar muito. O cético, ao ler isso, pode dizer "Que deuses que nada! conseguiste tudo por teus esforços!", mas só eu sei o que passa em meu espírito e em meu coração, e como a presença dos deuses me traz os mais diversos sentimentos.
No equinócio de outono que se aproxima, agradecerei a ele, e a Hermes, por todas as conquistas que eles me propiciaram, ao lidar com meu ambiente e comigo mesma.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Um pouco sobre música e espiritualidade

Eu e o Chronos temos ouvido muitas músicas com temáticas voltadas para espiritualidades politeístas nos últimos tempos: Além do Ragalaz´Runedance, que eu já comentei vááárias vezes, estamos ouvindo bastante Omnia e Faunn. Mas nem sempre é em músicas feitas para falar sobre experiências espirituais que encontramos reflexos de nossas experiências mais íntimas.
Voltei a ouvir essa música, que deve ser de dez anos atras, e, devo dizer, agora ela faz um sentido completamente diferente para mim...

La Bela Luna
(Paralamas do Sucesso)

Por mais que eu pense
Que eu sinta, que eu fale
Tem sempre alguma coisa por dizer
Por mais que o mundo dê voltas
Em torno do sol, vem a lua me enlouquecer

A noite passada
Você veio me ver
A noite passada
Eu sonhei com você

Ó lua de cosmo
No céu estampada
Permita que eu possa adormecer
Quem sabe, de novo nessa madrugada
Ela resolva aparecer

A noite passada
Você veio me ver
A noite passada
Eu sonhei com você...

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Uma questão de ponto de vista (literalmente)

Esse negócio de conhece-te a ti mesmo, às vezes me leva a pontos que eu não podia sequer imaginar...
Com os treinos de combate com espadas de espuma, os meninos que treinam comigo começaram a dizer que eu dava um golpe que eles nunca conseguiam defender. Na verdade, eu não dava golpe nenhum de propósito. Mas, o tempo foi passando e eu fui ouvindo e analisando aquilo, e percebi do que se tratava: De um golpe baixo, à minha esquerda. Tentei fazer o mesmo golpe para o outro lado, e nada. Não importa com que mão eu segurasse a espada, só conseguia dar aquele golpe para aquele lado.
Então, há alguns dias, estava desenhando umas coisas, e algo me irritou: Todos os desenhos que eu fiz saíram mais para a esquerda que para a direita. Acabei ligando uma coisa com a outra, e matei a charada: Eu sou muito míope, mas sou menos míope na esquerda que na direita, o que, de algum modo, faz com que o ângulo inferior esquerdo seja mais fácil para mim.
E, depois disso, fiquei me perguntando como eu não percebera isso antes: Fui olhar meus desenhos, e descobri que a parte mais detalhada sempre foi a inferior esquerda, assim como esse é o canto para o qual eu tenho mais facilidade em diversas outras coisas que requerem percepção espacial - Talvez isso até ajude a explicar porque, até hoje, eu não consegui aprender a andar de bicicleta!
Se estivessemos em outros tempos - se eu fosse um soldado medieval, por exemplo - um conhecimento como esse poderia fazer uma grande diferença, e ser, até mesmo, o fator decisivo entre a vida e a morte.
Em meu caminho, nem todos os desafios mais difíceis estão ligados ao imaterial: preciso ter um bom físico, pois corpo, mente e espírito estão juntos. E, por uma série de fatores,  o físico vinha sendo deixado de lado, gradualmente. Agora, estou sofrendo bastante para recuperar o prejuízo. É bom, nesse contexto passar a se dar conta de características e limitações, e perceber quantos fatores, mesmo que silenciosamente, agem sobre nossas vidas, e, quando descobertos, vão nos tornando mais conscientes de nós mesmos.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Telemaquia - com um conselho para uma amiga

Ia blogar sobre outra coisa. Essa nem era tema de blog. Mas se fez necessário.

Há umas duas semanas atrás, Chronos me contava uma visualização. E eu, empolgada, e meio sem pensar no que dizia, soltei um "como Proteu?". Chronos não conhecia a lenda. Deixei prá ler prá ele depois, da Odisséia, para ele não perder o que dizia.
E quarta à noite me lembrei disso. O primeiro exemplar da Odisséia que veio à minha mão, pois tenho uns três, foi justo a que eu estudei em 2002, cheia de anotações de uma época em que julgaria muito imaginativo aquele que me dissesse que eu ainda ia cultuar os deuses sobre os quais estava lendo.
Achei a citação sobre Proteu muito mais fácil do que imaginava. Achei que ela estivesse depois da parte sobre Circe, e fosse Odisseu quem tivesse se deparado com ele, mas era Menelau quem contava a Telêmaco, ainda na parte incial da Odisseia, a tal Telemaquia do título.
Acontece que o Velho do Mar logo se tornou uma preocupação secundária, uma vez que eu comecei a ler os trechos que eu havia marcado, e minhas observações, tão sucintas, mas tão cheias de significado. E ver minha energia, de quando era seis anos mais jovem do que sou hoje, ainda impregnada naquelas páginas. Foi bem difícil me desgrudar do livro por algum tempo.

Fui lavar a roupa e a louça, agora há pouco, e acabei começando a pensar em algo que lera a pouco. Uma amiga minha havia escrito sobre sua relação com uma determinada divindade. Saber como se aproximar de uma divindade nunca, nunca é fácil, mas se torna ainda mais difícil quando é uma divindade lembrada por poucos, e cuja presença inspira uma veneração muito profunda. E, então, me lembrei de um trecho, que posto aqui. Serve como conselho para ela, e para todos nós, em diferentes situações.

"E eles chegaram a Pilos, a imponente cidade de Neleu.  (...) A tripulação enrizou a vela e enrolou-a, ancorou o navio e desembarcou. Telêmaco também desembarcou, depois Atenéia [ disfarçada como um mortal chamado Mentor], que rompeu o silêncio, dizendo:
-Não deves mostrar-te envergonhado, de modo algum, Telêmaco. Sabes porque fizeste esta viagem: para saber notícias de teu pai (...) Vamos, pois, procurar logo Nestor: vejamos o que ele realmente pensa e sabe a respeito. Deves tu mesmo falar a Nestor, e pedir-lhe para dizer-te toda a verdade. Ele tem muito bons sentimentos para enganar-te.
Telêmaco replicou:
-Como posso ir cumprimentá-lo, Mentor? Não tenho prática de pronunciar discursos corteses. Além disso, um hovem deve se mostrar tímido quando se dirige a um homem idoso,
Encarando-o com seus olhos penetrantes, Atenéia retrucou:
-Pensarás algumas coisas sozinho, Telêmaco, e outras coisas Zeus colocará em teu espírito. Creio que não naceste e foste criado sem as bênçãos do Céu."

Homero, A Odisséia (em forma de Narrativa). 17a. Edição, Ediouro. Canto III.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Um pouco sobre os últimos dias

Saudações!

Esses últimos dias me trouxeram uma série de experiências de interiorização bastante intensas. Muita coisa começou a acontecer ao mesmo tempo, e acho que o sinal mais visível foram os livros que eu comentei ter encontrado nos últimos posts.
Briganthia é sempre Briganthia. Marca sempre o último suspiro feliz da energia de contentamento e do poder de ação e criação, sempre potencializados em mim nos tempos mais solares do ano. Me traz uma energia praticamente incontrolável, fico tão inspirada que chega a dar nos nervos das pessoas que estão por perto. É sempre um festival muito querido, foi o primeiro que celebrei...
...E esse ano, eu percebi que já faz tempo. Percebi que não sou apenas mais uma novata, inexperiente nos caminhos de minha relgião. E, no fundo, era isso que o achado dos livros queria me dizer também. Que sim, agora que eu já tenho o meu caminho bem consolidado, que já sei como cultuar meus deuses e já tenho alguma experiência, posso me abrir a outras vivências, se assim desejar.
E várias das situações que eu tenho experimentado, quer eu esteja dormindo, quer esteja acordada, têm me lembrado uma música do Hagalaz, chamada "Where the lonely souls go". E a cada instante eu sou posta em um dos papéis: O daquele que pergunta, e o do homem no manto azul. Fica a letra, para quem tiver curiosidade...

Where The Lonely Souls Go
(Hagalaz' Runedance)

Won't you come inside?
Rest a while, you must be tired
It has been a long way
But it's not far before you reach your goal
The end of this road
Another step to the new dimension
Before you travel on
Let me hear your story

Where do you come from, tell me of your early days
Tell me of gladness, sorrows, was your winter long and cold?
How did you let go?
Tell me and I will listen all night
At dawn I will wish you well
When you go where the lonely souls go

It seems so long ago
The memory of years long gone
One day I'll be there
At the crossroad where time has no name
Will I pass on or will I return?
Will you meet me
When I go where the lonely souls go?

And the man in a blue cloak
Smiles at me, he speaks to me
But I cannot hear for his words fade with the dream
The answers I seek, I will, I will never know
Will you show me?
Won't you tell me where the lonely souls go?

And you out there, lost ones,
Hiding within a crowd
Searching for the other soul
That you once left behind
You will also stand here at the end of the road, the crossing point
And alone you will go...
Where the lonely souls go

(PS: Eu já traduzi a letra de uma outra música dessa banda, Frigga's web, aqui na minha página. Ela também é ótima, e sempre me lembra Briganthia...)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

sábias palavras de Neil Gaiman

"Quando eu ainda era adolescente (...) resolvi que estava na hora de escrever meu primeiro livro.(...)
Tinha escrito umas cinco páginas do livro quando percebi que não tinha a mínima idéia do que estava fazendo, e parei. (Mais tarde, aprendi que a maior parte dos livros na verdade é escrita por gente que não tem a menor idéia do que está fazendo, mas que mesmo assim acaba de escrever seus livros. Gostaria de saber isso naquela época.)
Anos se passaram. Casei, tive filhos e aprendi a acabar de escrever as coisas que começava."

GAIMAN, Neil. Introdução. In: Os livros da Magia: O Convite. São Paulo: Conrad, 2004.

Por que será que eu me identifiquei com isso? Será que foi pelas histórias fantasiosas da adolescência? Pelas incompletas? Por começar e perceber que não se sabe o que está fazendo? Por deixá-las incompletas por esse motivo? Pelo conjunto?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Nausicaa do Vale dos Ventos


Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Animation
Se a vingança da Terra chegasse, e ela resolvesse purificar toda a sujeira que a raça humana fez nos últimos séculos, e, ainda assim, alguns humanos restassem, quantas gerações eles iam precisar para se dar conta do que realmente aconteceu?

Nausicaa do Vale dos Ventos (Kaze no Tani no Naushika) é uma animação da minha idade: Foi lançada em 1984 no Japão. Assistí-la, no entanto, não traz aquela impressão de animação velha, tanto pela abordagem temática continuar bastante original, quanto pela qualidade de animação. Até mesmo a questão ambiental que está no pano de fundo parece atual.
O diretor é Hayao Miyazaki, conhecido no Brasil atualmente pelo trabalho em "A Viagem de Chihiro" e "O castelo animado", mas é diretor de vários outros longas de qualidade no campo da animação japonesa, como "Meu vizinho Totoro" (que, em algum momento, teve uma versão dublada em português e eu gostaria MUITO de ter isso aqui). Salvo engano, todas as cenas dos filmes mais antigos do Miyazaki, como no caso de Nausicaa, foram pintadas à mão, e animadas através de um método bastante tradicional (eu não conheço muito desses aspectos técnicos de produção, mas lembro de ter lido sobre isso).
Nausicaa, a jovem protagonista, é a princesa de um reino de fronteira que não foi tocado pela praga de fungos venenosos que destruiu a maior parte da humanidade. O Vale dos Ventos é assim chamado por causa dos bons ventos que sempre fluem através dele. Sua população vive em paz, plantando e cuidando de sua terra, e sem ressentimentos por tudo o que aconteceu à terra no passado. O rei, pai de Nausicaa, foi contaminado pelos gases venenosos quando voava fora do vale, mas, embora esteja debilitado, ainda governa e é respeitado. Todos seguem os conselhos da vovó, (provavelmente a mãe do rei) uma velhinha cega que acredita que um dia um homem, vestido de azul, caminhando sobre um brilho dourado, depois de ter viajado pelo mundo fará uma descoberta que trará a paz e descobrirá o segredo da floresta envenenada... Ela sabe que simplesmente queimar as plantas que soltam o gás venenoso vai atraír a ira dos Ohmu - os grandes insetos - e foi por ela, pelo pai e por um explorador, que Nausicaa foi educada.
Nausicaa é muito atenciosa, atenta à natureza ao seu redor, e entende muito bem o comportamento dos animais, mesmo dos insetos gigantes que vieram com a destruição da terra, e, nos outros reinos, são considerados simplesmente como pragas a serem destruídas. Não é, entretanto, simplesmente boazinha, como a maioria das princesas das nossas histórias. Destemida e aventureira, ela vai descobrir segredos sobre a terra e as razões para o estado em que ela se encontra.
Enquanto isso, outras nações duelavam por poder e controle do que se tornou o mundo, sem buscar compreender o significado do que aconteceu, e sem qualquer senso de comunhão umas com as outras. Esses duelos, no entanto, vão atingir o Vale dos Ventos por causa da queda de um avião de uma dessas nações no território do Vale.
Falando em aviões, uma das coisas que eu realmente gostei no filme foi uma espécie de asa-delta motorizada super divertida que a Nausica usa em suas aventuras, o Meve. Para aqueles que têm sonhos de vôo, é um verdadeiro sonho de consumo. Eu realmente queria um daqueles :p E o bichinho da Nausicaa, uma mistura de raposa com esquilo é muito fofinho.

Eu não podia deixar de mencionar: O nome Nausica vem da Odisséia. Em Homero, Nausica é uma princesa que, guiada por Palas Athena, ajuda Ulisses quando seu navio naufraga e ele é o único a sobreviver. Em algum momento lembro de ter lido algo sobre a homenagem à princesa da Odisséia no nome dessa personagem, mas isso já tem algum tempo, e não me lembro mais com perfeição. Acho que foi por ocasião do lançamento do mangá de Nausicaa no Brasil pela Conrad - que está na minha lista de desejos desde que saiu, mas eu ainda não tive oportunidade financeira de aquirir.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Panteões diferentes convivendo juntos?

Saudações!

Um post da Inês causou polêmica sobre a mistura de deuses de panteões diferentes. Eu já resvalei na minha opinião sobre o assunto neste e neste (também polêmico) escrito, mas nunca cheguei a dar uma opinião mais direcionada e profunda. Então, aí vai:

Em princípio, eu não aprendi nada com ninguém que siga, ou tenha seguido, o mesmo caminho que o meu. Li sobre o meu caminho, mas o aprendizado prático e/ou de convívio físico, foi todo com pessoas que seguem caminhos diferentes, e eu agradeço muito essas pessoas,e honro o jeito que fui, intencionalmente ou não, ensinada (pois a maioria dos que nos ensinam não têm a meta explícita de nos ensinar; eles estão vivendo a vida deles, e acabamos aprendendo com seus exemplos). Isso por sí só seria motivo para mim honrar, pelo menos, os quatro festivais celtas.
E, bem... Eu sou casada com outro neopagão, mas que não segue a mesma linha que eu. O Chronos pratica o druidismo, e eu cultuo os deuses da Grécia. É impossível para mim ignorar a existência do altar dele como a pimeira coisa que olhamos quando acordamos de manhã, assim como é impossível para ele que o meu altar para Héstia não seja a primeira coisa que ele olhe ao chegar em casa.
Há quem diga, mesmo entre praticantes extremamente sérios e conceituados do druidismo que é possível praticar o druidismo honrando deuses de outros panteões. Mas essa NÃO é a minha opinião. Eu já estudei um pouco de druidismo (nem metade do que eu gostaria), mas nunca vai ser o meu caminho. Não funciona assim comigo, apesar de eu usar muitas influências do druidismo nas minhas práticas.
Isso porque os meus deuses têm outras demandas. Meu conceito de ritual é muito mais solene, exige preparações e práticas que não necessáriamente são necessárias no druidismo. Ao mesmo tempo tem coisas importantes lá que não são importantes para mim. Então uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
No entanto, isso continua não impedindo em nada que eu celebre com o Chronos e outras pessoas que conheço que seguem o druidismo, nem que o Chronos ou quem quer que seja celebre os meus deuses comigo, mesmo se guiando por panteões diferentes. Inclusive, dependendo do caso, dentro de uma mesma celebração.
Só é importante distinguir uma coisa da outra. Perante os celtas, ou os nórdicos, ou os deuses afro-brasileiros (nunca assisti um ritual a eles, mas morro de vontade!), eu sempre me sentirei uma estrangeira, e me portarei como minha cultura diz que um estrangeiro deve portar-se: Respeitando os costumes de quem hospeda, sem jamais desprezar a hospitalidade, mas também sem trair meus preceitos.
Se para mim realizar um ritual exige preparações de purificação, não iria para qualquer ritual sem preparo, mesmo que para a religião "do outro" isso não seja necessário porque (como alguém disse em um reply a um dos posts que mencionei lá em cima) para ela tudo é rito. Para mim os deuses estão em todos os momentos de nossas vidas, e em todos eles lhes glorifico, mas existem momentos mais especiais, que são as celebrações, e  essas festas para os deuses  exigem cuidados muito especiais. Se eu não me apresentaria suja em uma festa dedicada aos deuses a que honro, não seria um desrespeito fazer isso perante os deuses honrados pelos meus amigos?
Sempre ao ir a algum ritual de outra cultura, me purifico como se fosse honrar aos meus próprios deuses, e, antes de sair, faço uma prece, avisando que estarei como estrangeira em terras de amigos (e nada mais familiar aos gregos que viajar, que ser estrangeiro e receber o estrangeiro - aliás, muitos de nossos deuses não são, em origem gregos, mas foram trazidos para o que se chama de Grécia Antiga, e assimilados e adaptados por essas populações), e reafirmo que não estou abandonando nada por estar ali. Desde que peguei esse jeito de me comportar, nunca mais tive problemas com o temido (e pesadíssimo) choque de egrégora, e conhecer o estrangeiro só me ajudou e acrescentou.
Quando celebramos de modo misto, seguimos tudo o que é necessário em ambos os modos de celebrar: Eu faço libações e oferendas como meu costume, e o Chronos, que é quem em geral celebra comigo de modo misto, conduz as preces necessárias pelo costume dele. E vamos indo bem assim, sem perder em profundidade, e sem se desrespeitar.

Uma coisa que gosto de lembrar sobre esse assunto é que, para muitos dos modos de se cultuar os deuses da Grécia, mesmo deuses do nosso panteão são inconciliáveis. Já lí várias vezes pela Internet que se deve cultuar apenas os deuses do Olimpo, e que esse negócio de mecher com Titãs ou divindades pré-olímpicas no geral não dá certo, pois "as cargas deles são muito pesadas para que os humanos suportem", e coisas assim. Nem sempre tão nitidamente, mas eu mesma tenho separado: Ou faço um ritual aos olímpicos, ou celebro os titãs e os espíritos da natureza. Mas ainda estou estudando mais, para resolver esse problema na minha mente, pois ainda não sei se preciso, ou não, seguir essa ortodoxia. E mesmo para quem cultua só um panteão, tem aqueles deuses que vemos todo dia, outros em ocasiões especiais...
Vejo tantos problemas em pessoas que misturam panteões quanto os que vejo naquelas que não se informam sobre as individualidades de cada deus, mesmo que cultuando dentro de um único panteão, ou se contentam com informações superficiais. Nada contra alguém que cultue deuses de mais de um panteão, respeitando as particularidades de cada deus e sabendo separar as coisas quando a separação é necessária.

E, se assim não fosse, que direito teríamos de cultuar deuses que não são de nossas terras, sendo que todas as "mitologias" eram geograficamente localizadas? Assim, acho que precisamos tentar não tomar posturas radicais contrárias a determinadas práticas, sem checar a possibilidade de aprofundar nelas antes. O que deve ser criticado, e combatido, e lembrado como exemplo para não fazer, é a superficialidade e o desleixo de certas práticas, o desrespeito às particularidades de cada deus e de cada cultura, e a prática de coisas sérias como se fossem brincadeiras, sem o preparo e o estudo necessário. Como disse o Chronos ontem, "nesse ramo, pior que o mal intencionado só o mal informado".

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Olimpo

Estou preparando alguma coisa sobre parte do livro do Otto. Por enquanto, fiquem com essa belíssima descrição do Olimpo, que corresponde bem ao que eu imagino da terra onde moram os meus deuses

"Não é somente Hefesto que censura os deuses por tornarem-se discordes e deixarem-se perturbar em seus deleites por causa dos mortais. É o próprio Apolo que considera incompatível com sua dignidade lutar com seus semelhantes por amor aos homens. (...) Por mais solícito que possa ter-se mostrado um olímpio para com os homens e suas necessidades,sempre este filho do eterno retorna à glória do esplendor celestial. Lá nas alturas etéreas não há dores nem aflições, nem velhice, nem morte. No gozo de incorruptível juventude, beleza e majestade, eles andam pelo espaço brilhante de sua eternidade. Alí se encontram com seus iguais, irmãos e irmãs, amigos e amantes; um deus se deleita com outro, pois em todos, em cada um deles, está o esplendor da perfeição. É verdade que a predileção por certos homens e certos povos produz, às vezes, cenas violentas, mas a discórdia não dura muito, e nunca termina o dia sem que eles se reúnam festivamente para o comum desfrute de sua vida divina. Sabem muito bem que pertencem à mesma nobreza, a uma raça única cujos traços majestosos estão escritos no rosto de cada um"

FONTE: Walter F. Otto. Os deuses da Grécia. Odysseus, 2005.