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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Panteões diferentes convivendo juntos?

Saudações!

Um post da Inês causou polêmica sobre a mistura de deuses de panteões diferentes. Eu já resvalei na minha opinião sobre o assunto neste e neste (também polêmico) escrito, mas nunca cheguei a dar uma opinião mais direcionada e profunda. Então, aí vai:

Em princípio, eu não aprendi nada com ninguém que siga, ou tenha seguido, o mesmo caminho que o meu. Li sobre o meu caminho, mas o aprendizado prático e/ou de convívio físico, foi todo com pessoas que seguem caminhos diferentes, e eu agradeço muito essas pessoas,e honro o jeito que fui, intencionalmente ou não, ensinada (pois a maioria dos que nos ensinam não têm a meta explícita de nos ensinar; eles estão vivendo a vida deles, e acabamos aprendendo com seus exemplos). Isso por sí só seria motivo para mim honrar, pelo menos, os quatro festivais celtas.
E, bem... Eu sou casada com outro neopagão, mas que não segue a mesma linha que eu. O Chronos pratica o druidismo, e eu cultuo os deuses da Grécia. É impossível para mim ignorar a existência do altar dele como a pimeira coisa que olhamos quando acordamos de manhã, assim como é impossível para ele que o meu altar para Héstia não seja a primeira coisa que ele olhe ao chegar em casa.
Há quem diga, mesmo entre praticantes extremamente sérios e conceituados do druidismo que é possível praticar o druidismo honrando deuses de outros panteões. Mas essa NÃO é a minha opinião. Eu já estudei um pouco de druidismo (nem metade do que eu gostaria), mas nunca vai ser o meu caminho. Não funciona assim comigo, apesar de eu usar muitas influências do druidismo nas minhas práticas.
Isso porque os meus deuses têm outras demandas. Meu conceito de ritual é muito mais solene, exige preparações e práticas que não necessáriamente são necessárias no druidismo. Ao mesmo tempo tem coisas importantes lá que não são importantes para mim. Então uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
No entanto, isso continua não impedindo em nada que eu celebre com o Chronos e outras pessoas que conheço que seguem o druidismo, nem que o Chronos ou quem quer que seja celebre os meus deuses comigo, mesmo se guiando por panteões diferentes. Inclusive, dependendo do caso, dentro de uma mesma celebração.
Só é importante distinguir uma coisa da outra. Perante os celtas, ou os nórdicos, ou os deuses afro-brasileiros (nunca assisti um ritual a eles, mas morro de vontade!), eu sempre me sentirei uma estrangeira, e me portarei como minha cultura diz que um estrangeiro deve portar-se: Respeitando os costumes de quem hospeda, sem jamais desprezar a hospitalidade, mas também sem trair meus preceitos.
Se para mim realizar um ritual exige preparações de purificação, não iria para qualquer ritual sem preparo, mesmo que para a religião "do outro" isso não seja necessário porque (como alguém disse em um reply a um dos posts que mencionei lá em cima) para ela tudo é rito. Para mim os deuses estão em todos os momentos de nossas vidas, e em todos eles lhes glorifico, mas existem momentos mais especiais, que são as celebrações, e  essas festas para os deuses  exigem cuidados muito especiais. Se eu não me apresentaria suja em uma festa dedicada aos deuses a que honro, não seria um desrespeito fazer isso perante os deuses honrados pelos meus amigos?
Sempre ao ir a algum ritual de outra cultura, me purifico como se fosse honrar aos meus próprios deuses, e, antes de sair, faço uma prece, avisando que estarei como estrangeira em terras de amigos (e nada mais familiar aos gregos que viajar, que ser estrangeiro e receber o estrangeiro - aliás, muitos de nossos deuses não são, em origem gregos, mas foram trazidos para o que se chama de Grécia Antiga, e assimilados e adaptados por essas populações), e reafirmo que não estou abandonando nada por estar ali. Desde que peguei esse jeito de me comportar, nunca mais tive problemas com o temido (e pesadíssimo) choque de egrégora, e conhecer o estrangeiro só me ajudou e acrescentou.
Quando celebramos de modo misto, seguimos tudo o que é necessário em ambos os modos de celebrar: Eu faço libações e oferendas como meu costume, e o Chronos, que é quem em geral celebra comigo de modo misto, conduz as preces necessárias pelo costume dele. E vamos indo bem assim, sem perder em profundidade, e sem se desrespeitar.

Uma coisa que gosto de lembrar sobre esse assunto é que, para muitos dos modos de se cultuar os deuses da Grécia, mesmo deuses do nosso panteão são inconciliáveis. Já lí várias vezes pela Internet que se deve cultuar apenas os deuses do Olimpo, e que esse negócio de mecher com Titãs ou divindades pré-olímpicas no geral não dá certo, pois "as cargas deles são muito pesadas para que os humanos suportem", e coisas assim. Nem sempre tão nitidamente, mas eu mesma tenho separado: Ou faço um ritual aos olímpicos, ou celebro os titãs e os espíritos da natureza. Mas ainda estou estudando mais, para resolver esse problema na minha mente, pois ainda não sei se preciso, ou não, seguir essa ortodoxia. E mesmo para quem cultua só um panteão, tem aqueles deuses que vemos todo dia, outros em ocasiões especiais...
Vejo tantos problemas em pessoas que misturam panteões quanto os que vejo naquelas que não se informam sobre as individualidades de cada deus, mesmo que cultuando dentro de um único panteão, ou se contentam com informações superficiais. Nada contra alguém que cultue deuses de mais de um panteão, respeitando as particularidades de cada deus e sabendo separar as coisas quando a separação é necessária.

E, se assim não fosse, que direito teríamos de cultuar deuses que não são de nossas terras, sendo que todas as "mitologias" eram geograficamente localizadas? Assim, acho que precisamos tentar não tomar posturas radicais contrárias a determinadas práticas, sem checar a possibilidade de aprofundar nelas antes. O que deve ser criticado, e combatido, e lembrado como exemplo para não fazer, é a superficialidade e o desleixo de certas práticas, o desrespeito às particularidades de cada deus e de cada cultura, e a prática de coisas sérias como se fossem brincadeiras, sem o preparo e o estudo necessário. Como disse o Chronos ontem, "nesse ramo, pior que o mal intencionado só o mal informado".

6 comentários:

Aleξandra (Álex) disse...

Bom, confesso que não li tudo, mas eu cultuo os deuses gregos e tenho um relacionamento de muitos anos com alguém que cultua os deuses nórdicos. Não vejo problema nisso se soubermos que cada deus é um deus e respeitarmos o panteão do outro. O que eu acho que não poderia fazer é dizer que são todos os mesmos (dizer que zeus e thor seriam nomes diferentes da mesma deidade), até porque as histórias e características e símbolos e posturas diante de cada um é diferente. Por exemplo, a libação dos helênicos é vertendo o líquido para fora do copo, no chão/prato/etc, enquanto que a dos nórdicos é bebendo o líquido com os deuses. Os gregos não cobriam a cabeça no templo, os romanos permitiam usar capuz. Respeitando cada espaço e sua ritualística e individualidade, é totalmente possível uma integração. Mas é como você falou: é preciso se informar e conhecer para não fazer algo sem preparo e de qualquer jeito. Além disso, não somos como os monoteístas que se recusam a aceitar outros deuses. Justamente por sermos politeístas sabemos que podem haver mais deuses por aí do que só os nossos.

Luciana Polisel disse...

Muito interessante ler isso aqui. Estou começando a engatinhar no culto aos deuses gregos, porque antes eu vivia exatamente essa salada e não funcionou. Mas nem por isso deixo de respeitar as práticas das pessoas que conheço. Semana passada tive a chance de participar de uma conversa com um amigo que é sacerdote do candomblé e ele falou algo muito parecido com o que você disse sobre conhecer a fundo os deuses que cultuamos. A conversa girava sobre aquela questão de ser filho de Orixá, do lance de conhecer as sete linhas (não lembro se o termo é esse). Bom, o fato é que ele ressaltou a importância do Orixá de cabeça e o segundo antes de se aprofundar mais nos outros, porque não adianta nada saber os sete e não cultuar nenhum corretamente.

Acredito que essa seja a chave: estudar e conhecer a fundo, porque senão vira bagunça!

Ariany (Dhanna) disse...

Muito interessante teu escrito!

Muitas pessoas adoram falar que cultuam isso ou aquilo, mas nem ao menos tentam se aprofundar...
Estudo aliado à prática é o meu caminho e creio que seria ótimo se cada um fizesse sua parte, buscando aprender também com outras culturas e RESPEITANDO as opniões que são contrárias às suas.
Eu não tenho problema nenhum em participar de algum ritual que seja contrário às minhas crenças (desde que não seja um rito onde várias Divindades distintas esteja ali, como em coro: "unidos venceremos" rs) e creio que o respeito seja a base de tudo.
Vc respeita, vc aprende, conhece o que é diferente e amplia o seu horizonte...
Meu marido é Sikh, uma fé bem diferente do que vem a ser o paganismo (se bem que nem me considero "pagã", no termo literal da palavra, mas uma pessoa espiritualizada) e nos entendemos muito bem, obrigada!

Carolina Carvalho disse...

Olá QUERIDA... Aqui é a Carol, amiga da Paulinha!!!

Vim AGRADECER, de coração, as Boas-Vindas e a permissão a minha entrada no grupo de estudos. Mas devo salientar que, por favor, tenham muuuuuuuuuita paciência comigo porque não domino ainda os comando do Multiply e ainda apanho horrores para fazer coisas simples... como, por exemplo, deixar esse recado.. rss.

De qualquer modo, a versão original do meu Multi ainda é provisória, feita apenas para teste e reconhecimento de território da ferramenta e, ainda, pretendo personalizá-lo direitinho, para que ele tenha a cara, a trilha, o gosto e até cheiro que carrego em toda a a Multiplicidade que carrego do Mundo!

Beijos e abraços

PS: impressionante o que o ambiente virtual pode fazer ao transmitir energia e simpatia por pessoas desconhecidas, apenas com uma simples visita em espaços pessoais, editados e cuidadosamente pensado pela pessoa. Faz com que tenhamos um raio-x de alma mais eficiente do que qualquer máquina de ressonância... hehehehe

Carol Carvalho disse...

NOssa! Que bizarra eu... escrevendo um recado dentro do post que não tinha absolutamente naaaada haver com o que vc tinha escrito e mais, com a seriedade da coisa... ai senhor, que bom que a gente pode evoluir! hehehe

Lorien a.k.a. Virgínia disse...

hahahaahahahaha. Ótimo :D