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sábado, 27 de dezembro de 2008

Natal, Héstia, Pequenos Milagres, Cura

Era o início de Dezembro. Meu irmão se casara no meio do mês anterior, e percebi que minha mãe e meu pai passariam o natal sozinhos. Pensei que poderiam se sentir tristes. Achei que, por mais que acabasse não sendo o mais divertido, o mais certo era que eu fosse passar o natal com meus pais. Liguei, e perguntei o que eles iam fazer.

No primeiro momento, minha mãe disse que eu não precisava se preocupar, que ficariam sozinhos, o casamento tinha sido festa suficiente. No segundo momento, disse que se quiséssemos mesmo ficar por lá, podíamos jogar uma partida de buraco, o jogo de reunião de família tradicional da casa de minha avó. Mandei e-mails para o meu irmão, perguntando se ele viria, mas eu e Chronos já havíamos confirmado.

Quando meu irmão confirmou, mas dizendo que ia voltar cedo por causa da família da Camila, minha mãe convidou também a famíla da minha cunhada. Meu irmão disse que era muito difícil que viessem, mas todos acabaram vindo.

Duas tempestades, as claras em neve, e o gás que acabou me atrasaram um bocado. Pretendia estar lá bem mais cedo, para curtir mais. Quando cheguei, minha cunhada estava lá, com minha mãe na cozinha, fazendo salada, comidas japonesas, e colocando o tender para assar.

Eu sabia que meu irmão levaria o tender, mas eles planejavam levá-lo assado. Esqueci de perguntar o que aconteceu. Mas o fato é que o forno da minha mãe foi aceso.

Tenho 24 anos, então meus pais estão com quase trinta de casados, e o fogão vem dessa época. Mas o forno daquele fogão NUNCA tinha sido aceso até então. Pode parecer estranho para qualquer um de vocês, mas minha mãe temia um vazamento de gás caso ligasse o forno.

Minha mãe, aliás, é uma pessoa cheia de temores e manias. Quando eu morava com ela, nunca podia levar amigos em casa, pois ela tinha vergonha de minha casa, medo do julgamento de meus amigos, e horror à bagunça que eu podia fazer. Chronos só entrou na minha casa duas vezes por emergência antes de casarmos. E, devo admitir, esse foi um dos fatores que apressou muito nosso casamento, da minha parte. Como era proibida de trazê-lo em casa, eu tinha que sair constantemente, e meus horários de chegar, ou o fato de passar noites fora, enraiveciam minha mãe, e faziam com que ela brigasse constantemente comigo. A minha cunhada já aproveitou um pouco mais da compania dos meus pais, pois minha mãe deixou de ser tão rígida quando eu casei.

Ceia preparada, todos comendo, e eu percebi o que estava acontecendo: Haviam nove pessoas naquela casa, e isso nunca havia acontecido. E, simplesmente, eramos uma família. De um jeito que nunca haviamos sido antes. Minha mãe, pela primeira vez, teve uma postura de mãe com filhos crescidos e independentes: Não eramos mais apenas quatro. Todos tinham presentes, se divertiam, riam, e comiam. Minha mãe não achou que eu, Chronos, e o namorado da irmã da Camila eramos alcólatras porque começamos a comentar sobre teor alcólico de diversas bebidas. E ela havia se escandalizado quando soube que eu bebia.

Quando eu realmente percebi tudo o que estava acontecido, um sentimento terno e maravilhoso se apoderou de mim. Não sei se os outros haviam percebido, mas um pequeno milagre estava acontecendo, naquele momento. E meu conceito de pequeno milagre foi, muito parecido com o de um desenho japonês para crianças que eu vira uma vez, chamado Kokoro Toshokan. Era um fato aparentemente cotidiano, que se tornava maravilhoso pelo sentimeto que trazia, assim como pela inocência e espontaneidade que o haviam produzido. E eu conseguia visualizar uma cena muito parecida, num futuro nem tão distante, com meu filhinho correndo por todos os lados e sendo mimado como o pequeno da família.

Então, em epifania, me lembrei do forno aceso, que cozinhara nosso tender. E soube o nome do milagre. Pois o fogo de Hestia tinha sido aceso. Era a senhora do lar, em seu devido lugar. Era ela que, sempre discreta, presidira aquela festa, em que nenhuma criança da promessa foi lembrada. E o Senhor do Olimpo, com seus raios, a abençoou.

Voltei apenas ontem à noite para casa. Afinal, agora estava em casa também na casa de minha mãe. O efeito de tudo isso em mim foi excepcionalmente curativo. Ver um padrão viciado ser rompido da forma correta muito me alegrou. Estou em uma espécie estranha de transe até agora. Felicidade, alívio, e contentamento em saber que meus deuses me seguem onde quer que eu vá.

12 comentários:

Luciana Onofre disse...

fiquei com lágrimas nos olhos...

Dark Will disse...

Que bom, é sempre romper velhos padrões e saber que nossos Deuses estão conosco sempre!!!
Que Héstia Abençoe á todos nós e nossas famílias!!!
=D

Sheilla Pereira Sabbag Uberti disse...

Virar familia é muito especial..
Que o fogo aceso nunca se apague...
Afinal, as Lares precisar estar em algum lugar...

Thais dos Santos Domingues disse...

Antes de terminar de ler: eu tbm tenho medo de vazamentos de gás por causa do forno.

Thais dos Santos Domingues disse...

Ler o seu texto me fez ter esperança, sabe? Esperança de que um dia eu vou ver o milagre acontecer à minha volta tbm...

Lorien a.k.a. Virgínia disse...

São por essas e outras que eu digo que o puta dinheirão que você gasta mantendo uma casa compensa... Pelo menos a minha família ficou muito mais gostosa de se curtir depois disso...

Iony Ming disse...

é um sentimento de missão cuprida, de vitoria, da agua fresca depois de passar pelo deserto! Isso não tem preço né?

Iony Ming disse...

Vc demorou 24, eu demorei 31, minha irmã demorou 45 e assim vamos vivendo sempre com esperança no calor de Hestia!

Lorien a.k.a. Virgínia disse...

Disse tudo Iony, o sentimento principal é o de missão cumprida mesmo.
E de cura. Da reparação de erros do passado.

Nerval Alves de Lima Filho disse...

fogões modernos estão vindo de fábrica com válvulas de segurança que interrompem automaticamente o fornecimento de gás caso a chama se apague por algum motivo qualquer, tipo vento...

de forno eu nunca tive medo, mas já de panela de pressão... :-/ Uma estourou literalmente do meu lado e eu vi um fogão virar uma pilha de ferro retorcido por conta disso... fora o teto da cozinha que nunca mais foi o mesmo...! :-)

Voltando ao tópico, é bom se sentir em família.

Lorien a.k.a. Virgínia disse...

Eu também tenho um pouco de medo de panela de pressão. Evito usar :p

Nilda Azevedo disse...

Só hoje li..
Não sei o que dizer, mas o seu relato é emocionante..
E até entendo um pouco o que vc passou, pois minha madrasta não fazia a mínima questão que levássemos amigos em casa.. mas isso é outra história e tem outros motivos.