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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

sábias palavras de Neil Gaiman

"Quando eu ainda era adolescente (...) resolvi que estava na hora de escrever meu primeiro livro.(...)
Tinha escrito umas cinco páginas do livro quando percebi que não tinha a mínima idéia do que estava fazendo, e parei. (Mais tarde, aprendi que a maior parte dos livros na verdade é escrita por gente que não tem a menor idéia do que está fazendo, mas que mesmo assim acaba de escrever seus livros. Gostaria de saber isso naquela época.)
Anos se passaram. Casei, tive filhos e aprendi a acabar de escrever as coisas que começava."

GAIMAN, Neil. Introdução. In: Os livros da Magia: O Convite. São Paulo: Conrad, 2004.

Por que será que eu me identifiquei com isso? Será que foi pelas histórias fantasiosas da adolescência? Pelas incompletas? Por começar e perceber que não se sabe o que está fazendo? Por deixá-las incompletas por esse motivo? Pelo conjunto?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Nausicaa do Vale dos Ventos


Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Animation
Se a vingança da Terra chegasse, e ela resolvesse purificar toda a sujeira que a raça humana fez nos últimos séculos, e, ainda assim, alguns humanos restassem, quantas gerações eles iam precisar para se dar conta do que realmente aconteceu?

Nausicaa do Vale dos Ventos (Kaze no Tani no Naushika) é uma animação da minha idade: Foi lançada em 1984 no Japão. Assistí-la, no entanto, não traz aquela impressão de animação velha, tanto pela abordagem temática continuar bastante original, quanto pela qualidade de animação. Até mesmo a questão ambiental que está no pano de fundo parece atual.
O diretor é Hayao Miyazaki, conhecido no Brasil atualmente pelo trabalho em "A Viagem de Chihiro" e "O castelo animado", mas é diretor de vários outros longas de qualidade no campo da animação japonesa, como "Meu vizinho Totoro" (que, em algum momento, teve uma versão dublada em português e eu gostaria MUITO de ter isso aqui). Salvo engano, todas as cenas dos filmes mais antigos do Miyazaki, como no caso de Nausicaa, foram pintadas à mão, e animadas através de um método bastante tradicional (eu não conheço muito desses aspectos técnicos de produção, mas lembro de ter lido sobre isso).
Nausicaa, a jovem protagonista, é a princesa de um reino de fronteira que não foi tocado pela praga de fungos venenosos que destruiu a maior parte da humanidade. O Vale dos Ventos é assim chamado por causa dos bons ventos que sempre fluem através dele. Sua população vive em paz, plantando e cuidando de sua terra, e sem ressentimentos por tudo o que aconteceu à terra no passado. O rei, pai de Nausicaa, foi contaminado pelos gases venenosos quando voava fora do vale, mas, embora esteja debilitado, ainda governa e é respeitado. Todos seguem os conselhos da vovó, (provavelmente a mãe do rei) uma velhinha cega que acredita que um dia um homem, vestido de azul, caminhando sobre um brilho dourado, depois de ter viajado pelo mundo fará uma descoberta que trará a paz e descobrirá o segredo da floresta envenenada... Ela sabe que simplesmente queimar as plantas que soltam o gás venenoso vai atraír a ira dos Ohmu - os grandes insetos - e foi por ela, pelo pai e por um explorador, que Nausicaa foi educada.
Nausicaa é muito atenciosa, atenta à natureza ao seu redor, e entende muito bem o comportamento dos animais, mesmo dos insetos gigantes que vieram com a destruição da terra, e, nos outros reinos, são considerados simplesmente como pragas a serem destruídas. Não é, entretanto, simplesmente boazinha, como a maioria das princesas das nossas histórias. Destemida e aventureira, ela vai descobrir segredos sobre a terra e as razões para o estado em que ela se encontra.
Enquanto isso, outras nações duelavam por poder e controle do que se tornou o mundo, sem buscar compreender o significado do que aconteceu, e sem qualquer senso de comunhão umas com as outras. Esses duelos, no entanto, vão atingir o Vale dos Ventos por causa da queda de um avião de uma dessas nações no território do Vale.
Falando em aviões, uma das coisas que eu realmente gostei no filme foi uma espécie de asa-delta motorizada super divertida que a Nausica usa em suas aventuras, o Meve. Para aqueles que têm sonhos de vôo, é um verdadeiro sonho de consumo. Eu realmente queria um daqueles :p E o bichinho da Nausicaa, uma mistura de raposa com esquilo é muito fofinho.

Eu não podia deixar de mencionar: O nome Nausica vem da Odisséia. Em Homero, Nausica é uma princesa que, guiada por Palas Athena, ajuda Ulisses quando seu navio naufraga e ele é o único a sobreviver. Em algum momento lembro de ter lido algo sobre a homenagem à princesa da Odisséia no nome dessa personagem, mas isso já tem algum tempo, e não me lembro mais com perfeição. Acho que foi por ocasião do lançamento do mangá de Nausicaa no Brasil pela Conrad - que está na minha lista de desejos desde que saiu, mas eu ainda não tive oportunidade financeira de aquirir.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Panteões diferentes convivendo juntos?

Saudações!

Um post da Inês causou polêmica sobre a mistura de deuses de panteões diferentes. Eu já resvalei na minha opinião sobre o assunto neste e neste (também polêmico) escrito, mas nunca cheguei a dar uma opinião mais direcionada e profunda. Então, aí vai:

Em princípio, eu não aprendi nada com ninguém que siga, ou tenha seguido, o mesmo caminho que o meu. Li sobre o meu caminho, mas o aprendizado prático e/ou de convívio físico, foi todo com pessoas que seguem caminhos diferentes, e eu agradeço muito essas pessoas,e honro o jeito que fui, intencionalmente ou não, ensinada (pois a maioria dos que nos ensinam não têm a meta explícita de nos ensinar; eles estão vivendo a vida deles, e acabamos aprendendo com seus exemplos). Isso por sí só seria motivo para mim honrar, pelo menos, os quatro festivais celtas.
E, bem... Eu sou casada com outro neopagão, mas que não segue a mesma linha que eu. O Chronos pratica o druidismo, e eu cultuo os deuses da Grécia. É impossível para mim ignorar a existência do altar dele como a pimeira coisa que olhamos quando acordamos de manhã, assim como é impossível para ele que o meu altar para Héstia não seja a primeira coisa que ele olhe ao chegar em casa.
Há quem diga, mesmo entre praticantes extremamente sérios e conceituados do druidismo que é possível praticar o druidismo honrando deuses de outros panteões. Mas essa NÃO é a minha opinião. Eu já estudei um pouco de druidismo (nem metade do que eu gostaria), mas nunca vai ser o meu caminho. Não funciona assim comigo, apesar de eu usar muitas influências do druidismo nas minhas práticas.
Isso porque os meus deuses têm outras demandas. Meu conceito de ritual é muito mais solene, exige preparações e práticas que não necessáriamente são necessárias no druidismo. Ao mesmo tempo tem coisas importantes lá que não são importantes para mim. Então uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
No entanto, isso continua não impedindo em nada que eu celebre com o Chronos e outras pessoas que conheço que seguem o druidismo, nem que o Chronos ou quem quer que seja celebre os meus deuses comigo, mesmo se guiando por panteões diferentes. Inclusive, dependendo do caso, dentro de uma mesma celebração.
Só é importante distinguir uma coisa da outra. Perante os celtas, ou os nórdicos, ou os deuses afro-brasileiros (nunca assisti um ritual a eles, mas morro de vontade!), eu sempre me sentirei uma estrangeira, e me portarei como minha cultura diz que um estrangeiro deve portar-se: Respeitando os costumes de quem hospeda, sem jamais desprezar a hospitalidade, mas também sem trair meus preceitos.
Se para mim realizar um ritual exige preparações de purificação, não iria para qualquer ritual sem preparo, mesmo que para a religião "do outro" isso não seja necessário porque (como alguém disse em um reply a um dos posts que mencionei lá em cima) para ela tudo é rito. Para mim os deuses estão em todos os momentos de nossas vidas, e em todos eles lhes glorifico, mas existem momentos mais especiais, que são as celebrações, e  essas festas para os deuses  exigem cuidados muito especiais. Se eu não me apresentaria suja em uma festa dedicada aos deuses a que honro, não seria um desrespeito fazer isso perante os deuses honrados pelos meus amigos?
Sempre ao ir a algum ritual de outra cultura, me purifico como se fosse honrar aos meus próprios deuses, e, antes de sair, faço uma prece, avisando que estarei como estrangeira em terras de amigos (e nada mais familiar aos gregos que viajar, que ser estrangeiro e receber o estrangeiro - aliás, muitos de nossos deuses não são, em origem gregos, mas foram trazidos para o que se chama de Grécia Antiga, e assimilados e adaptados por essas populações), e reafirmo que não estou abandonando nada por estar ali. Desde que peguei esse jeito de me comportar, nunca mais tive problemas com o temido (e pesadíssimo) choque de egrégora, e conhecer o estrangeiro só me ajudou e acrescentou.
Quando celebramos de modo misto, seguimos tudo o que é necessário em ambos os modos de celebrar: Eu faço libações e oferendas como meu costume, e o Chronos, que é quem em geral celebra comigo de modo misto, conduz as preces necessárias pelo costume dele. E vamos indo bem assim, sem perder em profundidade, e sem se desrespeitar.

Uma coisa que gosto de lembrar sobre esse assunto é que, para muitos dos modos de se cultuar os deuses da Grécia, mesmo deuses do nosso panteão são inconciliáveis. Já lí várias vezes pela Internet que se deve cultuar apenas os deuses do Olimpo, e que esse negócio de mecher com Titãs ou divindades pré-olímpicas no geral não dá certo, pois "as cargas deles são muito pesadas para que os humanos suportem", e coisas assim. Nem sempre tão nitidamente, mas eu mesma tenho separado: Ou faço um ritual aos olímpicos, ou celebro os titãs e os espíritos da natureza. Mas ainda estou estudando mais, para resolver esse problema na minha mente, pois ainda não sei se preciso, ou não, seguir essa ortodoxia. E mesmo para quem cultua só um panteão, tem aqueles deuses que vemos todo dia, outros em ocasiões especiais...
Vejo tantos problemas em pessoas que misturam panteões quanto os que vejo naquelas que não se informam sobre as individualidades de cada deus, mesmo que cultuando dentro de um único panteão, ou se contentam com informações superficiais. Nada contra alguém que cultue deuses de mais de um panteão, respeitando as particularidades de cada deus e sabendo separar as coisas quando a separação é necessária.

E, se assim não fosse, que direito teríamos de cultuar deuses que não são de nossas terras, sendo que todas as "mitologias" eram geograficamente localizadas? Assim, acho que precisamos tentar não tomar posturas radicais contrárias a determinadas práticas, sem checar a possibilidade de aprofundar nelas antes. O que deve ser criticado, e combatido, e lembrado como exemplo para não fazer, é a superficialidade e o desleixo de certas práticas, o desrespeito às particularidades de cada deus e de cada cultura, e a prática de coisas sérias como se fossem brincadeiras, sem o preparo e o estudo necessário. Como disse o Chronos ontem, "nesse ramo, pior que o mal intencionado só o mal informado".

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O Olimpo

Estou preparando alguma coisa sobre parte do livro do Otto. Por enquanto, fiquem com essa belíssima descrição do Olimpo, que corresponde bem ao que eu imagino da terra onde moram os meus deuses

"Não é somente Hefesto que censura os deuses por tornarem-se discordes e deixarem-se perturbar em seus deleites por causa dos mortais. É o próprio Apolo que considera incompatível com sua dignidade lutar com seus semelhantes por amor aos homens. (...) Por mais solícito que possa ter-se mostrado um olímpio para com os homens e suas necessidades,sempre este filho do eterno retorna à glória do esplendor celestial. Lá nas alturas etéreas não há dores nem aflições, nem velhice, nem morte. No gozo de incorruptível juventude, beleza e majestade, eles andam pelo espaço brilhante de sua eternidade. Alí se encontram com seus iguais, irmãos e irmãs, amigos e amantes; um deus se deleita com outro, pois em todos, em cada um deles, está o esplendor da perfeição. É verdade que a predileção por certos homens e certos povos produz, às vezes, cenas violentas, mas a discórdia não dura muito, e nunca termina o dia sem que eles se reúnam festivamente para o comum desfrute de sua vida divina. Sabem muito bem que pertencem à mesma nobreza, a uma raça única cujos traços majestosos estão escritos no rosto de cada um"

FONTE: Walter F. Otto. Os deuses da Grécia. Odysseus, 2005.