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domingo, 25 de maio de 2008

Dançando

Desde pequena, dançar é uma coisa que me alegra muito. Me torna mais viva, mais ativa. Tem quase o efeito das flores, mas parece que é um efeito um pouco mais noturno.

Devo meu gosto por Clara Nunes pelas horas que passava dançando, sozinha, na sala da minha casa, quando morava ainda no prédio chamado Zeus. Ouvia outras músicas que eu gosto muito até hoje, mas era a fita de Clara Nunes do meu pai que mais me animava a dançar. E, criança, em meus devaneios, pouco importava estar sozinha, ou estarem me vendo. Nem sei se eu dançava no rítmo certo. Aquilo era uma demonstração da minha plenitude.

Já nos idos de 94/95, influenciada pelas coleguinhas de escola, comecei a ouvir rádio, a ter as minhas próprias músicas, independente do gosto de meus pais - especialmente do meu pai, que me influenciou mais nesse aspecto. Era uma época em que se tocava muita dance music, e eu curtia muito. Se me colocarem numa pista com dance - mas não com techno e essas coisas mais recentes - certamente eu vou ser um ser humano saltitante. E mesmo sendo ainda muito jovenzinha, foi nessa época em que soube o que era uma pista de dança: Nas festinhas (eu morava em um condomínio de classe média) sempre contratavam DJs e transformavam o salão do prédio em uma danceteria para nos divertirmos. Mas, pelo menos vendo de dentro, nossas brincadeiras de pré-adolescentes não tinham a carga erótica que têm hoje para crianças da mesma idade.

Eu era péssima com coreografias e essas coisas. Talvez não fosse boa para dançar. Mas não me importava nada disso, frente à felicidade que dançar me proporcionava.

Entre 1997 e 1998 eu morava em uma cidade do interior de Minas, e já era um pouco mais grandinha. Não era mais o tempo de danceteria de festa de aniversário de criança. Ia dançar com os adultos, no clube mesmo. O clube era o único lugar dançável da cidade e era muito mais divertido nos feriados, quando os jovens de BH, Ouro Preto e outras cidades iam para a minha cidadezinha ver parentes e amigos.

O baile de domingo, que era o que eu ia por que as mulheres não precisavam pagar entrada, começava logo depois da missa, e terminava só no outro dia. Sim, eu era menor de idade, e em tese não poderia frequentar o dito lugar, mas nunca ninguém me impediu. Houveram vezes em que eu cheguei a ir completamente sozinha, e não ficava mal com isso. Tinha que conviver com estilos musicais que eu gostava e que eu não gostava, mas era só dançar até se acabar quando tocavam músicas legais, e ir para outros ambientes quando elas não me agradavam.A última coisa que fiz antes de voltar para São Paulo foi dançar até o fim do baile.

Voltei a sair à noite só muitos anos depois, pois meus amigos certinhos não curtiam esse tipo de coisa, e eu não confiava em sair com os "porra loca" (e se eu não confiaria, imagina minha mãe?). E tem toda a coisa de São Paulo ser uma cidade violenta, etc. Fui voltar a sair apenas quando já namorava com o Chronos, e minha mãe tinha um treco quando saíamos prá dançar. Lembro-me de uma vez - eu, já na porta de casa, minha mãe continuava tentando fazer com que eu não fosse, e eu olhei para ela, ao mesmo tempo esperançosa e quase em lágrimas, e disse para ela me deixar ir, pois era a primeira vez que eu tinha um namorado que gostava de dançar.

Desses três anos junto com o Chronos, já fomos em muitos lugares e temos muitas histórias prá contar: Dos shows do Pato Fu, do dia em que ele dormiu a noite inteira no The Clock e eu dançei o tempo todo, mesmo sem ele, da festa que exalava Dionísio, e de tudo o que descobri de mim naquele dia, do jeito que ele me protege e demarca nosso território nos lugares com ar mais hostil - e isso, talvez, seja o melhor de tudo! Sentir a energia dele protegendo meu espaço para que eu possa dançar livre. Isso faz com que eu me sinta plena, me enche de alma.

Ainda assim, se há três anos atrás me dissessem que hoje eu estaria fazendo aula de dança do ventre, eu jamais acreditaria. Dançar dança do ventre é uma demonstração de confiança em si mesma, de reverência ao corpo e de aceitação de suas potências. E como eu ia imaginar que me sentiria confiante o suficiente? É preciso encarar a sí mesma para dançar - e, ao mesmo tempo, é preciso estar pronta para afirmar aquilo que se está fazendo aos outros. Se ouve as coisas mais esquisitas quando se fala a uma pessoa "comum" que você faz aula de dança do ventre. As pessoas são ridiculamente mal informadas.

Com isso, estou aprendendo um novo jeito de dançar. A festa de Santa Sarah à qual eu fui esse fim de semana certamente faz parte disso. Poder fazer parte daquele movimento de energias maravilhosas, e se sentir plenamente integrado - sem ter ninguém te criticando por não saber os passos certos, e estando todos, absolutamente todos, abertos à troca de energias entre as almas, foi uma experiência maravilhosa para mim. E, quem sabe, numa próxima festa, eu já não tenha conhecimento e movimentações suficientes para arriscar uma dança-solo? Um dia, eu quero poder expressar meu espírito e dividir minha energia desse modo.

Nunca pensei que nasci para dançar. Nunca me julguei boa nisso - e nunca me disseram isso também - mas, entre períodos de alegria e de esquecimento, a dança é, para mim, uma dessas atividades, paralelas a tantas outras, que ajudam a dar cor à passagem dos meses, e que me trazem instantes de felicidade plena. Ainda que sejam momentos fugazes, e irreproduzíveis, suas marcas estarão para sempre na memória desse corpo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre sonhos, celebrações e estrangeiros

Hoje sonhei que celebrava com os meus amigos asatru (o nome daqueles que cultuam os deuses nórdicos) o Samhain. Creio que eles não chamam Samhain essa data, e eles celebram uma roda um pouco diferente. Mas foi curioso, principalmente por que, para muitos, hoje é mesmo o Samhain, o "dia de finados".
Primeiro de maio é o correspondente ao dois de novembro se levarmos em conta a estação do ano em que ele cai no hemisfério norte. Se se leva em consideração "celebrar os mortos ao início do inverno", celebra-se hoje. Eu não celebro hoje, celebro em dois de novembro mesmo, pois sigo a "roda mista", conceito que para alguns é muito complicado, mas para mim, que "nasci" nele para o paganismo, é muito simples de entender: Celebra-se os solstícios e equinócios pelas estações do hemisfério sul, os quatro festivais celtas pelas datas no norte. Ou, não teríamos festas juninas, mas festas janeirinas, e no meu aniversário estaríamos celebrando o natal, mas não é invertendo tudo que a coisa se fez historicamente.
Mas ter sonhado com um Samhain no dia que por muitos é considerado Samhain, por mais que aqui em casa estejamos celebrando Beltane, foi, para mim, surpreendente.
E sonhar com os meninos, mais surpreendente ainda. Não tenho contato com eles há um bom tempo. E, em outros sonhos de hoje, vieram dois outros símbolos que têm a ver com a cultura nórdica: uma chuva de granizo, e o arco-íris (que para eles é a ponte para o lugar onde vivem os deuses, chama bifrost).
Também é o segundo dia consecutivo que eu sonho com o Mandos e com festividades. Pois ele estava na celebração de Samhain, e, na noite anterior, sonhava que fazíamos uma festa de aniversário para ele. O que também me lembra que o aniversário desse germiniano (e, alguns dias depois, o meu) está chegando, com a chegada do inverno.
E ainda abro o Multiply para dar de cara com uma discussão sobre os passeios que às vezes damos por outras culturas. curioso, não?