Muito antes que os vivos confiassem eles próprios às àguas, não terão
colocado o ataúde no mar, na torrente? O ataúde, nesta hipótese
mitológica, não seria a última barca. Seria a primeira barca. A morte não seria a última viagem. Seria a primeira viagem.
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Para enfrentar a navegação é preciso que haja interesses poderosos.
Ora, os verdadeiros interesses poderosos são os interesses quiméricos.
(...) O herói do mar é um herói da morte. O primeiro marujo é o
primeiro homem vivo que foi tão corajoso quanto um morto.
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A morte é uma viagem e a viagem é uma morte. "Partir é morrer um
pouco." Morrer é verdadeiramente partir, só se parte bem,
corajosamente, nitidamente, quando se segue o fluir da água, a corrente
do largo rio. Todos os rios desembocam no rio dos mortos.
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Assim, o adeus a beira-mar é simultaneamente o mais dilacerante e o
mais literário dos adeuses. Sua poesia explora um velho fundo de sonho
e de heroísmo."
BACHELARD, G. A água e os sonhos - Ensaio sobre a imaginação da Matéria. São Paulo, Martins Fontes, 1997, p 75-77.